Já que sou Flor do viver - por Abraão Vitoriano

“E a saudade é um lugar que só quem amou”. A entoar nos versos de Padre Fábio de Melo, encontro a essência desta obra cuja cadência valseia pela saudade e esperança. Uma saudade que reverbera como combustível, por vezes melancólico, por vezes reconfortante, sempre enternecedor.

“Oratório da moça que sente saudades” afigura um jardim de paisagens interiores, pinceladas pelo que há de mais humano em nós. Jaqueyne, em sua arte de borboletear silêncios, tece os fios do infinito que, antes de ser saudade, enfrenta os meandros da dor: “Ela se foi/ levando meu melhor sorriso/ o despertar entre carinhos/ os primeiros abraços da manhã/ o copo de leite que só o amor materno sabe temperar (...)”.

O livro inteiro reverbera memórias e transformações, como se no amarrar das miçangas, estivesse a estrutura quase intangível do tempo, com suas ponderações e naturais angústias: “Pai, perdoai-me, pois eu não sei o que escrevo.”.

E neste bordado, neste manto, neste lençol: o lirismo toma espaço, engravida o verso e faz com que o próprio modo de olhar a vida, outrora tácito e descontente, fabrique asas, qual tal o poema “Viagem”: “Porque de um sonho eu nasci/ E para outro sonho/ Mais bonito irei (...)”.

Devota de Cecília Meireles, a Menina-Passarinho (Janefli desde nascença), prepara o altar da saudade, suntuoso e com fitas de lembranças e, diante deste ritual, ouso dizer que sua mãe poesia é e, portanto, se eterniza a cada segundo no solo primeiro de todos: o coração.


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