Descendentes de Ares, doentes de um ódio cancerígeno


“Odiar é uma forma de se matar aos poucos...” disse certa vez o Padre Fábio de Melo, mas também faz morrer o próximo ao destilarmos tanta energia negativa. Nesses últimos dias temos visto tantas declarações explícitas de ódio, o desejo de ver o outro na desgraça, de vê-lo moribundo numa UTI e desejá-lo a morte não como forma de repouso do sofrimento, mas pura e simplesmente porque o outro é a esposa de um político de um partido político que como tantos outros perece nas mãos da corrupção.

Não podemos ficar tão cegos por esse sentimento lodoso que é o ódio. Através dele perdemos o senso de humanidade, empatia, razão e respeito. Vertemos tontos e insanos palavras inescrupulosas e ações impensadas. As pessoas estão deixando que seus corações adoeçam repletos de lissas, mordidos por essa psicose de ver o outro sempre degraus abaixo de si, ferido e fraco, sangrando se possível.

Sobre essa sede de sangue podemos lembrar aqui a mitologia grega. Há um deus, Ares, apelidado de “bebedor de sangue”. Encontramos muitos discípulos dele e até nos tornamos um deles quando deixamos que esse flagelo de ver o outro em lágrimas, sofrendo, agonizando nos impelem a declarar guerras, inimizades, dores e infortúnios ao outro.
O mais sagrado direito que temos é o de viver e deixar viver. Não há lei ou explicação suficiente que nos faça crer que a vida deve ser destruída por não concordarmos com a ideologia, os pensamentos e crenças que o indivíduo possua. Cada um alimenta-se do que lhe convém, só não deve satisfazer-se com o que é mal. Quando nos permitimos esse caminho de fúria perdemos a capacidade de enxergarmos a nós mesmos como seres humanos.

Há um ditado popular que diz “o mal por si só se destrói”. E voltando às palavras de Padre Fábio de Melo, sim, o ódio mata a quem o possui, como um câncer silencioso e metastático. É ele quem nos faz perder a porção de humanidade que todos nós recebemos ao primeiro sopro de vida. É ele que nos faz ver o mundo como algo desprezível, merecedor da violência, das guerras, das declarações enfurecidas, da impossibilidade do que é diferente (mas igual em essência) existir. É ele que nos faz destruir o lugar que habitamos dentro de nós e por isso somos levados a odiar tudo o que ainda não foi corroído, frustrados diante a infelicidade que nos consome, tudo o que ainda reluz. Não há tratamento mais eficaz que o amor. Só ele pode nos curar de nós mesmos.


Jaquelyne Costa

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