A maldição da desumanização da raça humana

Os noticiários não param de mostrar essas estórias que parecem até roteiros de filmes de psicopatas sangrentos, onde frieza e ataques de intensa raiva são responsáveis pelo circo dos horrores. O terror da realidade assusta e, embasbacados nos perguntamos o motivo que leva uma ou mais pessoas a cometerem crimes baseados no seu próprio senso de justiça (?).
O retrato falado divulgado numa página do Facebook e um boato bem espalhado foram doses suficientes para assassinar, de forma brutal, uma jovem dona de casa e mãe de dois filhos, no Guarujá, litoral de São Paulo. Numa tarde, ela teve a infeliz ideia de sair de sua casa e cruzar o caminho de pessoas que resolveram executar o veredicto para uma criminosa cruel que sequestrava crianças para realizar rituais de magia negra. As vozes foram aumentado em coro na rua, lembrando o histórico e milenar acontecimento do jovem galileu quando o povo enraivecido pedia “crucifica-o, crucifica-o!”.
Outra triste notícia, exibida hoje pela mídia, é a da manicure de 26 anos, de Osasco-SP, que teria roubado pacotes de biscoitos da casa de uma mulher. Foi sequestrada, torturada e morta por três suspeitos (dentre eles uma mulher, dona da casa de onde os biscoitos foram levados) que teriam realizado tudo isso como forma de “punição”. Há investigações sendo feitas, declarações de delegado, parentes e amigos e ainda que essa mulher tenha algo mais sério contra si, nada poderia leva-la à morte dessa forma. Mais uma vez a “justiça” feita com as próprias mãos só revela mãos cheias de sangue e muita covardia.
Olhamos para dentro de nós e já não nos reconhecemos. Somos ferozes animais guiados pelo instinto infeliz de tomar decisões sobre a vida (ou morte) dos outros, baseados em aparências, julgamentos egoístas e por muitas vezes falhos. Sequestramos, torturamos e matamos com uma sede que nunca se esgota. "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se o poder nas mãos dos maus, o homem chega a rir-se da honra, desanimar-se da justiça, e de ter vergonha de ser honesto." Eis aí o pensamento do diplomata Rui Barbosa, do século passado, ainda tão atual, reverberando no coração daqueles que se encontram assustados com a realidade apresentada a cada dia nos telejornais, uma maldição que se alastra. E ainda apalermada lanço, mesmo que seja ao vácuo: Onde está o lado humano da raça humana? Precisamos aprender da seda fina dos sentimentos bons, que nos diferenciam das pedras e outros seres sem alma.

Jaquelyne Costa


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