E no oitavo dia o Homem criou a Máquina...


Por Jaquelyne A. Costa



O homem surge. E nasce com ele a curiosidade pela praticidade. O homem pensa. Há de haver algum modo de facilitar essa vida na selva porque correr atrás de um mamute não é fácil e, muito menos, seguro. O homem tem imaginação. Monta estratégias falando com seus companheiros numa linguagem ainda desconhecida, ouve-se apenas algo parecido aos macacos. Entre um “uuuhuuaa” e outro vão caçar. De novo o problema. Matar mamute na unha é arriscado. O animal é feroz e corre atrás do homem que corre em direção de um abrigo seguro. O jeito é voltar para a caverna e pensar mais um pouco enquanto o estômago grita (antes gritando que morto).

Nas paredes das cavernas as conquistas são desenhadas e o fogo permite que eu as veja.

A máquina já existia em sua cabeça. O homem pensava. O homem tem Poiesis e o momento é de criar. Arriscou umas pedras lascadas colocou-as amarradas numa vara e correu atrás das feras para ver se dava certo. De longe, como nas olimpíadas o lançamento de varas, o homem mirava na sua caça e não é que acertava?! Mas ele percebeu que ainda podia melhorar. Assim aparece o que se chama de Tecnologia. A máquina estava dentro da cabeça do homem. O homem possuía a máquina e a máquina era já uma necessidade.

O homem é uma máquina ou a máquina é o homem?

A História foi revelando que o homem estava tão próximo da máquina que hoje pode até ser confundido a ela. Preste atenção ao andar na rua. Na sua frente vai um garoto vestido com uma calça jeans, uma camiseta preta, um boné vermelho, um tênis desses com amortecedor prateado, uma mochila gigante cheia de coisas, brinco, relógio, e nos ouvidos os fones brancos de um mp4. Mais a frente, no café da esquina, um homem sério usa seus dedos sem parar num objeto escuro e brilhoso, o qual chamam de notebook Lá na lanchonete você entra e pede um simples suco de laranja. A garçonete pega as laranjas, liga um aparelho que produz um intenso ruído. Advinha o que é?

Das idéias um liquidificador de idéias.

Alguns teóricos dizem que a máquina é uma extensão do homem e que as pessoas exageram ao dizer que o mundo vai ser tomado pelas máquinas, mas isso é tarefa para o filme O Exterminador do Futuro 1,2,3,4... e quantos mais forem criados. O que preocupa mesmo é saber de que maneira as pessoas irão se relacionar com as desvantagens das vantagens das máquinas. Sim, porque vivemos um momento de tentativa de conscientização ambiental, as empresas se dizem responsáveis ecologicamente, e acham que amenizam a situação de degradação do mundo colocando em seus kit press um material reciclado.

Vamos morar no subsolo porque não há mais espaço. Aqui em cima há um cenário maquinal como o de Metrópolis.

Mas, com a modernidade as coisas aumentam sua proporção e o homem perde o domínio das coisas que ele mesmo inventou. As máquinas não nasceram por si mesmas, elas foram criadas e esse saber produzido instaura uma espécie de poder. O filósofo Foucault trata muito desse tema em suas obras, principalmente em Microfísica do Poder, quando ele diz que “toda forma de saber produz poder”. A sociedade está sendo guiada por uma força camuflada que a tudo vê e controla. É como o Panóptico de Jeremy Bentham, um filósofo inglês que concebeu um sistema de prisão onde as celas seriam postas em círculo, individualmente, com a parte da frente virada ao olhar atento de um Diretor, instalado numa torre ao centro, que a tudo viria e não seria visto. E então, como o gado é levado pelo vaqueiro, nós vamos sendo levados por esse Olho que a tudo vê.

Só uma pergunta: alguém pode me dizer para onde estão nos levando? É que me preocupa o lugar, pois eu já me sinto totalmente desnuda e há um olhar que não sai de cima de mim!

Orwell em sua obra 1984 elabora uma teoria baseada nesse modelo de Jeremy e diz que a sociedade é governada por uma força onipresente que tortura e oprime, fazendo assim, desrumos na História. E aí me aparece o Big Brother Brasil, as câmeras de segurança internas e externas. Você caminha na rua preocupado com sua vida, as contas, o casamento, e outros assuntos de ordem particular, enquanto outros olhos avistam cada passo dado seu. No elevador do prédio onde mora no canto direito ou esquerdo do teto está um olho. Na boutique no shopping lá está aquela plaquinha até meio ridícula que diz “Sorria, você está sendo filmado.” E pra que diabos sorrir para um troço desses?! Mas parece que é só assim que nos podemos sentir seguros. Muito estranho tudo isso. A segurança está em ser vigiado o tempo todo, como se a todo momento você pudesse estar a cometer um crime.

Não quero sorrir porque estou sendo filmada. Nem vejo a íris de quem me observa...

Estou escrevendo isso aqui enquanto pessoas me observam sem que eu saiba, talvez rastreando sites que visito, arquivos que abro no computador, telefonemas que atendo, papéis que assino... Ai, ai! Se for parar para pensar acho que enlouqueço! Para onde foi parar a Lei da Privacidade? Na privada? Quem mandou dar a descarga? Ah, sim! Desculpe, deve ter sido esse tal de Panóptico que a tudo vê e controla. Como é que se desliga essa máquina? Cadê o botão on/off? Esqueço que só ela nos vê, ela que pode nos desligar do mundo, nos deixar meio neuróticos, esquizofrênicos e loucos. O que vejo mesmo é que as pessoas estão ficando cada vez mais embrutecidas e isso me entristece. Para quê escrever uma carta a punho se se pode mandar um e-mail? Para quê conversar pessoalmente de mãos dadas se existe MSN? Presenciar o pôr do sol ao vivo já virou coisa de filme. Colher uma flor nem precisa porque existe o cartão virtual mesmo... Affffff... O que o homem fez do homem? O que a máquina fez do homem? Onde está a poesia que habitava o homem, eu já quase não a encontro... parece que se perdeu há bastante tempo tanto que Drummond deixou assim escrito:

Repara:
ermas de melodia e conceito
elas se refugiaram na noite,
as palavras.
Ainda úmidas e impregnadas de sono,
rolam num rio difícil
e se transformam em desprezo.

E muda, encerro com esse trecho da música de Gilberto Gil, Cérebro Eletrônico:


“O cérebro eletrônico faz tudoFaz quase tudoFaz quase tudoMas ele é mudo...”
(Gilberto Gil)





BIBLIOGRAFIA


FOUCAULT, Michel. Microfísica do poder. Rio e Janeiro: Edições graal, 1979.

Poema “Procura da poesia” de Carlos Drummond de Andrade.

ROHDEN, Huberto. Filosofia da Arte. São Paulo: Martin Claret, 2007.

Comentários

Lindinha, adorei a cara do seu novo catinho... ficou show, e detalhe, o post está maravilhoso...
bjo e aproveito para convidar vc a conhecer o meu novo cantinho, sinto em dizer mas o antigo dediquei, com a ajuda de uma grande amiga, para meu futuro bebê...
espero que goste...
bjos

http://simplesmentemae2009.blogspot.com/
Jaquelyne Costa disse…
Xará, que bom vê-la por aqui!!!
Obrigada,amiga!!
Estava mais do que na hora de mudar o visual né?!!!
Ah!!Visitarei sim, pode deixar mamãe!!

Beijos=*
Fred Matos disse…
Ótimo texto, Jaque.
Beijo
Adorei o novo visual. O cabeçalho tah lindo... e vc ajuda ainda mais a compor a beleza dele!! :)

Bjowww
Adorei o novo visual. O cabeçalho tah lindo... e vc ajuda ainda mais a compor a beleza dele!! :)

Bjowww
Jaquelyne Costa disse…
Olá, Dri!!
Seja muito bem vinda ao Jaque Sou!!

Passarei no seu com certeza!!
Pode deixar!

Beijos=*
Jaquelyne Costa disse…
Fred!
Obrigada, querido!!

Um grande beijo=*
Jaquelyne Costa disse…
Wllyssys!!!

Que bom vê-lo aqui!!!

Obrigada, meu lindo!

Beijos=*

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