Um karma encantado


O sol apareceu distante essa manhã. E não me admira que o tempo cante em meus ouvidos uma canção que fala da memória. Talvez seja ela a culpada de eu sentir tanta saudade. Tanta saudade tanta... e a primeira lágrima vem morna, caminhando pelo rosto deixando uma nódoa como cicatriz. Nesse momento está chovendo muito lá fora e eu me guardo embaixo de um quente cobertor respirando pouco, ouvindo o tec-tec da água que cai.

Eu daria um doce para ficar no meio da rua, cabelos assanhados, pés descalços, roupa de dormir e um sorriso besta na cara levando essa chuva toda e dançar como as árvores, seres livres e abençoados. Ter os pés ao chão e as mãos bailando no vento, refrescando a alma com água celeste e ouvir as peripécias do menino do vento que adora brincar em dias assim.

Minha lágrima morna se misturaria às lágrimas frias do céu e eu me livraria do gosto do sal que atinge minha garganta. Levanto uma parte do meu cobertor, e olho pela janela aberta os pingos que me molham. A música não parou de tocar, e é uma melodia suave que vem de algum lugar não distante. O sol? O sol parece uma lamparina desbotada num recorte cinza, parece ter apagado com a chuva. E é por ele que fico assim, toda murcha. Como uma árvore viver sem fotossíntese? Como eu vou viver sem luz?

A manhã passa arrastada. E alguém lá fora nem sabe que eu o admiro e o olho todos os dias daqui de minha janela. E chega a ser melodramática essa cena da jovem princesa enclausurada sofrendo de um amor platônico, derramando promessas, guardando sua enorme trança tecida ao longo de anos e anos de espera. Meu nome nem é Rapunzel, mas creio sofrer de uma reencarnação de karma encantado. A bruxa é sempre essa ilusão que não me abandona, e me faz acreditar, sinceramente, de que eu sou uma princesa, sem encantos, mas princesa. Vou esperando, pacientemente triste, esse meu príncipe que não existe... que não me vem...
Jaquelyne A. Costa

Comentários

Giuseppe Menezes disse…
A chuva também já me inspirou muito. Revela uma tristeza insolúvel mas cheia de vontade de viver. Sinto saudade de conversar contigo, ainda que não seja pessoalmente.

Grande abraço!
Jaquelyne Costa disse…
A chuva é como uma instigadora de palavras...
Ah, eu também sinto saudades..
meu tempo anda tão corrido.
Aqui no trabalho não tenho acesso ao msn'e orkut, só ao blog!
Essa é uma janela por onde posso ver o mundo daqui de onde estou!

Beijos, meu querido!
Abraços significam amor para alguém
com quem realmente nos importamos.....
para nossos avós ou nossos vizinhos,
ou até mesmo para um ursinho amigo......
Um abraço é algo espantoso...
é a forma perfeita de mostrar
o amor que sentimos,
mas que palavras não podem dizer.
É engraçado como um simples abraço
faz-nos sentir bem...
em qualquer lugar ou língua...
É sempre compreendido...
E abraços não precisam de equipamentos,
pilhas ou baterias especiais...
É só abrir os braços e o coração...

Guarde este abraço

beijooo.
Liginha Gabriela disse…
Ahh essas historias de principe encantado...contos de fada...
bonitas sim... em contos, filmes, poesias, são coisas da imaginação... como seria bom se fosse?! rss

Um abraço Jaque bem forte pra ti

^^
Jaquelyne Costa disse…
Liginha!!
Já imaginou se existisse mesmo?!

Obrigada, amiga!!

Um grande beijo=*
Jaquelyne Costa disse…
Bem-haja, Manzas!!
Tuas palavras são abençoadas!!

Beijo terno

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